Querido A.,
Olho para trás…
Talvez não estivesse tão ciente do sentimento que sinto por ti. Talvez não quisesse estar ciente desse sentimento, ou talvez fosse apenas o medo que me consumia por estar certa de que contigo, do meu lado, corria o risco de sofrer.
Não és nem de longe, nem de perto o meu tipo de rapaz… Não és tão inteligente quanto gostaria, não és bem-posto, não és simpático a todo o segundo e és sempre tão incapaz de assumir o que realmente queres. Mas depois… Oh depois! Depois és esse rapaz tão encantador do seu jeito… Mostras aquele sorriso inerte e perfeito, trocas aquele olhar altivo e destemido comigo e segues o teu caminho, dizendo um simples e terno “Bom dia”, que me arrepia a espinha e inebria a alma. És tudo aquilo que eu busco, quedando-me na desistência…
Não confessei nunca o que pensava sentir, não imprimi por um segundo que fosse em ti a capacidade que tinha em amar-te e por fim escapuliste-me por entre os dedos.
Soube hoje da tua partida…
Sempre achei que o teu futuro seria do meu lado, porque foste e julguei que sempre serias, o amigo constantemente presente nas horas penosas, mas hoje encontrei a tua mãe, aquela mulher docemente cativante, e ela contou-me dos teus planos para o futuro. Contou-me que desistiras dos estudos e pretendes partir pra longe, na busca pelo sonho que sempre tiveste em ingressar numa carreira militar.
E só eu sei como te apoiei nesse sonho antigo, mas agora julgava impossível ver-te partir assim… especialmente quando o meu frágil coração se predispôs a assumir aquilo que realmente sente em relação a ti.
“E agora?”, penso eu… É tarde demais! É demasiado tarde para te revelar os meus sentimentos, é demasiado tarde para te pedir que fiques, pois tudo está empacotado e as tuas malas já repousam junto da porta. É a hora da despedida e eu estou certa de que não quero e nem te irei ver partir.
Entrei dentro de casa, sentei-me na cama e apenas espreitei pela janela o cenário desolador: arrumaste as malas na bagageira, deste um beijo na testa do teu pequeno irmão e um abraço forte à tua mãe que chorava desgostosamente e depois partiste… Partiste sem ao menos me contares as tuas intenções, partiste sem te despedires. Partiste sem dizeres o quanto gostavas de mim e partiste sem ouvir o quanto te amei…
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